COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

REGIONAL MATO GROSSO DO SUL

Comissão Pastoral da Terra Realiza Assembleia Regional

A Comissão Pastoral da Terra – Regional Mato Grosso do Sul (CPT- MS), realizou nos dias 28, 29 e 30 de abril sua Assembleia Anual de Avaliação e Planejamento. O evento aconteceu na Escola Família Agrícola EFAR, em Rio Brilhante e contou com a participação de 72 pessoas, entre agentes, trabalhadores/as e convidados/as.

A programação teve momentos de celebração, análise de conjuntura, apresentação dos trabalhos realizados pela entidade, além da definição de ações a serem assumidas e incorporadas no planejamento da CPT para o próximo período.

Contribuíram na assessoria, as professoras Gaby e Judite Stronzak, o professor João Carlos de Souza, o Advogado indigenista Anderson Santos e o Deputado Pedro Kemp, que debateram a conjuntura social, política, econômica e eclesial. O representante e membro da Coordenação Nacional da CPT, Carlos Lima, falou sobre os conflitos e sobre a Campanha Contra a Violência no campo, realizada pela CPT e por um conjunto de organizações sociais. A agente Carolina Motoki discorreu sobre a Campanha Permanente Contra o Trabalho Escravo e os desafios da CPT neste momento de acirramento da exploração e de degradação das condições de trabalho, especialmente no campo, envolvendo as populações tradicionais e camponesas mais isoladas.

A partilha e a troca de produtos, sementes, frutos, experiências e saberes foi um ponto forte desta assembleia.

 

 

Movimentos e Pastorais Sociais lançam Campanha contra Violência no Campo e publicação anual sobre conflitos agrários no Mato Grosso do Sul

MS é o terceiro estado que mais registrou assassinatos decorrentes de conflitos no campo em 2022

No dia 8 de maio, segunda-feira, às 18h (horário de MS), será apresentada ao público a Campanha contra Violência no Campo e a publicação anual “Conflitos no Campo Brasil 2022’’, que traz dados alarmantes sobre a violência no campo no país e no estado, registrados no último ano. O evento acontecerá no Armazém do Campo do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), em Campo Grande (MS).

Em 2022, de acordo com a publicação “Conflitos no Campo Brasil”, o Mato Grosso do Sul registrou 165 conflitos no campo, envolvendo mais de 40 mil pessoas nessas ocorrências. No total, no ano passado, foram 6 assassinatos registrados, todos de pessoas dos povos Guarani e Kaiowá - o que coloca o MS como o 3º estado brasileiro que mais contabilizou mortes em decorrência de conflitos no campo. 

Roberto Carlos de Oliveira, agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), destaca a importância do lançamento da Campanha e da publicação no MS. “Há mais de 40 anos o trabalho de registro do Centro de Documentação da CPT joga luzes para o cenário de violência e impunidade que as populações camponesas e povos originários sofrem em nosso país. O que os povos indígenas estão enfrentando em nosso estado é um verdadeiro genocídio”, destaca.

Lançada a nível nacional em agosto de 2022, a Campanha Contra Violência no Campo chega ao MS para se configurar como uma ação coletiva de enfrentamento às violências e aos conflitos que sofrem as populações camponesas, com ações e políticas de proteção das comunidades tradicionais, dos povos originários, dos campesinatos, das florestas e das águas.

O evento é uma iniciativa da Comissão Pastoral da Terra (CPT), do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra (MST), da Central Única dos Trabalhadores (CUT), da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (FETAGRI), da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (FETEMS), e demais movimentos e Pastorais Sociais que compõem a Campanha.

O lançamento será aberto ao público e contará com mesa de debate com a participação de representantes dos povos camponeses e indígenas, depoimentos dos movimentos e pastorais sociais, além da apresentação dos dados da publicação. A publicação Conflitos no Campo pode ser acessada gratuitamente no site da CPT.


Serviço:

Lançamento da Campanha contra Violência no Campo e da publicação anual “Conflitos no Campo Brasil 2022’’

Data e horário: 08/05, às 18h (horário de MS)

Local: Armazém do Campo do MST (entrada franca)

Endereço: Rua Juruena, 309 - Vila Taquarussu, Campo Grande – MS

Contato de imprensa: Bruno Santiago / 11 99985 0378

AMOR PELA TERRA E PAIXÃO PELAS SEMENTES CRIOULAS.

Mieceslau Kudlavicz

Agente da Comissão Pastoral da Terra

A minha relação de amor com os camponeses e com a CPT tem a ver com a minha origem. Minha família é de camponeses descendentes de poloneses e são católicos praticantes. Não perdiam uma missa dominical. Mesmo tendo que, muitas vezes, andar a pé 10 quilômetros para chegar à Igreja.

É neste ambiente religioso que fui criado e, tenho um compromisso que assumi com meus pais após minha ordenação sacerdotal, quando decidi, em 1974, exercer meu ministério sacerdotal em Rondonópolis no MT. Essa decisão deixou meus pais muito tristes porque eu iria ficar a 1.600 quilômetros longe deles. E o meu compromisso com eles foi - eu ficaria longe fisicamente, mas dedicaria toda a minha vida na defesa dos camponeses e por isso meus pais estariam sempre presentes no meu trabalho.

A partir daí, minha relação com a CPT se dá com a sua criação no MT, em 1976, quando meu irmão era o coordenador e foi como consequência deste meu compromisso com meus pais. Nossa atuação se dava no apoio, acompanhamento, defesa dos posseiros e denúncia dos despejos. Inclusive na época criamos o Boletim Aroeira, como um instrumento para denunciar os despejos, e as grilagens de terra que se avolumavam na década de 1970.

Em 1985, deixei de exercer o ministério sacerdotal e vim a três lagoas para participar como agente da CPT. Participei das mobilizações na organização dos sem terra na região do bolsão e na assessoria a fundação dos STR. Além de assessorar o movimento dos atingidos pela barragem de Porto Primavera, atual Sérgio Mota, na conquista dos reassentamentos de agricultores, oleiros, pescadores e assalariados, atingidos pela barragem. E a partir do ano 2000, uma retomada da organização dos sem terra na conquista de 5 assentamentos entre os municípios de Três Lagoas e Selvíria.

Após a constituição dos assentamentos iniciamos um trabalho de organização da produção no sistema agroecológico (cursos, oficinas), posteriormente, esta atividade é realizada em parceria com a universidade federal. E nos 4 últimos anos me dedico mais a atividade de recuperação, preservação, multiplicação e troca das sementes Crioulas.

Enfim, o sangue camponês corre nas minhas veias. Não apoio tão somente a luta dos camponeses. Mas tento exercer algumas atividades de lavrar a terra porque também sou camponês. Tenho quintal urbano, de 12 por 50 metros, totalizando 600 metros quadrados. Destino, mais ou menos 12x20 para plantas frutíferas. Duas variedades de manga, graviola, umbu, tamarindo, caju, gueiroba, abacaxi, pinha, maracujá, jaboticaba, limão rosa, beribá. Na parte restante, no período de setembro/outubro até março cultivo milho (4 variedades), algumas covas de pipoca, feijão de corda (5 variedades), abóbora, amendoim (3 variedades), feijão guandu, arroz (para reprodução das sementes), inhame e alguns pés de mandioca. De abril a setembro, que é o período da seca, e depende de muita irrigação, cultivo verduras (2 variedades de alface), salsinha, coentro, couve, cenoura, feijão de arranca (3 variedades) mais para reprodução das sementes, cebolinha bananinha e cigarrinha, batatinha (testando viabilidade) e abóbora (várias variedades). Cultivo este quintal há mais de 15 anos. No início, não produzia nem mandioca. Aos poucos, fui incorporando matéria orgânica da planta. Folhas de outras plantas do quintal. Cultivando feijão de porco, mucuna para aumentar matéria orgânica e incorporar mais nitrogênio no solo. E na medida do possível nas verduras acrescento húmus de minhoca.

Hoje consigo ter uma boa produção. Mas faço este trabalho porque meu sangue é camponês. Não consigo viver sem plantar sem me relacionar com a terra. Tenho um imenso prazer em acompanhar o desenvolvimento das plantas até a colheita, momento que sempre é de grande satisfação. O contato com a natureza, com as plantas, vendo o cantar alegre dos passarinhos no pomar me revigora interiormente. Me dedico a estas atividades sem pretensão nenhuma de renda. Faço porque minha paixão pelas plantas e pelas sementes Crioulas é enorme. Ao mesmo tempo que preservo na memória meus tempos de jovem das décadas de 1960/1970 quando trabalhava no sítio com meus pais, sem precisar comprar sementes para plantar. E foi com produtos da roça, com sacos de feijão, de milho, de arroz, de trigo, de batatinha, que meu pai pagou meus estudos, desde o primário, em escola particular religiosa.

Importante também ressaltar, que além desta satisfação pessoal pelo lavrar a terra, demonstro que é possível produzir muita comida para o consumo próprio, doar para conhecidos e multiplicar e preservar muitas variedades de sementes Crioulas em pequenos espaços urbanos e não somente em áreas rurais.

 Hoje posso me considerar um agricultor urbano.

    

“Nós queremos mostrar que os camponeses estão em luta e estão produzindo”: Pastoral da Terra no Mato Grosso do Sul lança novo site

 

Plataforma está disponível para ser acessada no endereço www.cptms.org.br

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Mato Grosso do Sul lança nesta semana seu novo site, um canal de comunicação que chega às redes digitais para apresentar ao público as ações, projetos e notícias do regional da CPT, bem como contribuir com a visibilização de denúncias dos conflitos agrários que ocorrem no estado sul mato-grossense. A plataforma está disponível para ser acessada no endereço www.cptms.org.br

De acordo com Anita Alves de Oliveira, agricultora que vive no Assentamento Nazareth, em Sidrolândia (MS), a chegada do site da CPT-MS é bem-vinda. “As pessoas quando pensam nos camponeses, quando pensam nos sem-terra, acham que somos vagabundos porque lutamos para conquistar o nosso pedaço de terra, mas isso não é verdade. Ter um canal de comunicação da CPT aqui no estado é uma oportunidade para mostrar realmente quem somos e o que fazemos, de mostrar o nosso trabalho duro na roça, a nossa produção que alimenta muitas famílias aqui na região”, explica a camponesa.

Quando perguntada sobre o que mais gostaria de ver no novo canal da Pastoral da Terra, Anita não hesitou em responder. “Quero que as pessoas da cidade saibam que as hortaliças e os legumes que nós vendemos na banca da feira vieram lá do Assentamento Nazareth e que nós produzimos”, enfatiza a agricultora.

O novo site da Pastoral da Terra no Mato Grosso do Sul nasce com o propósito de apresentar ao público as ações que são desenvolvidas atualmente pela CPT-MS, mas também de visibilizar sua história e missão. O regional atua há mais de 40 anos no estado, na luta pelos direitos, pelos territórios e pelas vidas dos povos camponeses e tradicionais na região.

“A história da CPT-MS se confunde com a história de luta dos povos do campo no Estado de Mato Grosso do Sul. Foi no seio dos conflitos agrários, tanto em âmbito nacional como estadual, que a CPT-MS é fundada no ano de 1978, em plena Ditadura Militar, que perseguiu, torturou e prendeu centenas de lideranças de camponeses que lutavam pela posse da terra” - explica o artigo que apresenta a história da Pastoral da Terra no Mato Grosso do Sul, já disponível na plataforma.

No espaço virtual da CPT-MS será possível encontrar textos e informações sobre os projetos da Pastoral, como suas ações em combate aos agrotóxicos, luta pelos direitos territoriais dos povos camponeses, implantação de Sistemas Agroflorestais e preservação de nascentes. Além disso, o site apresenta ao público o Arquivo Alfeo Prandel que abriga, além de documentos institucionais, uma vasta documentação sobre a história dos camponeses do MS ao longo de seus encontros e manifestações.

“O arquivo reflete a capilaridade das relações da CPT-MS e das instituições eclesiais com grupos sociais no espaço rural. Muitos destes documentos ainda têm a CPT-MS como seu fiel depositário”, destaca o texto de apresentação do Arquivo, que pode ser lido e acessado no site da entidade.

Para Roberto Carlos de Oliveira, agente da CPT-MS, o lançamento do novo canal de comunicação é uma conquista que é fruto de uma construção coletiva. “Há algum tempo estamos tentando desenvolver essa plataforma e ocupar as redes. Hoje realizamos a primeira etapa deste sonho, que foi colocar o canal no ar”, destaca. “O próximo passo será prosseguir com a gestão compartilhada e participativa do site, estamos nos organizando para este trabalho, criamos um conselho editorial, e vamos em frente com a missão de comunicar às lutas camponesas aqui do estado”, finaliza o agente da CPT. 

Acesse www.cptms.org.br e confira os conteúdos do novo site da CPT-MS.


Texto: CPT-MS / Imagem: Divulgação/CPT-MS